A morte64bet.comcineasta, historiador e professor Silvio Tendler, aos 75 anos, nesta sexta-feira (5), comoveu colegas de profissão e ex-alunos. Jorge Ferreira, professor titular de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro João Goulart: uma biografia (2015), se recorda de quando assistiu ao documentário Jango em 1984, “no último ano da ditadura militar e no embalo da campanha da Diretas-Já.”
“Entrar em um cinema para assistir ao documentário sobre o governo Goulart, 20 anos após o golpe de Estado que o depôs da Presidência da República, era um ato político, um protesto contra a ditadura militar. Silvio Tendler montou o documentário com emoção. Seu objetivo era informar, mas também emocionar. E conseguiu”, recorda.
O filme teve 1 milhão de espectadores. Em entrevista à Agência Brasil, Jorge Ferreira recorda-se do impacto. “Eu assisti ao filme, com o cinema lotado, e presenciei pessoas chorando e outas com os olhos vermelhos. Eu mesmo me emocionei com a cena de um avião partindo com Jango para o exílio, ouvindo Milton Nascimento cantando Coração de Estudante. Silvio Tendler certamente não imaginou que o filme Jangoseria um sucesso de público, muito menos que se tornaria uma obra da maior relevância na cinegrafia brasileira.”
A importância do documentarista para a formação de visões sobre o Brasil é também destacada pelo cineasta Sérgio Machado.
“O Silvio Tendler foi absolutamente fundamental, não apenas na minha formação como cineasta. Mas (principalmente) na minha formação política. [O filme] Jango marcou a minha vida, foi um ponto de virada. Lembro de assistir ao lado da minha mãe, que chorou durante a sessão inteira. Foi a partir dos filmes dele que eu entendi os horrores da ditadura e o quanto era fundamental lutar contra ela.”
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No Instagram, a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz ressalta o conhecimento e a compreensão do documentarista sobre o país. “Ele era, sobretudo, um cineasta engajado, com seus filmes apresentando um claro fundo político — no melhor e único dos sentidos. Como muitos e muitas cineastas nacionais, Tendler era, junto com seus filmes, um intérprete privilegiado do Brasil.”
Os mesmos predicados são reconhecidos pela Academia Brasileira de Letras. Em nota, a ABL afirma que Silvio esteve entre os melhores documentaristas do Brasil, e deixou sua marca na cinematografia brasileira.
"Sempre com uma visão crítica da sociedade e preocupado com a justiça social, suas obras suscitaram debates importantes sobre nossa identidade. Trabalhou com biografias históricas, é autor de documentários importantes como sobre a Revolta da Chibata, sobre Jango e o golpe de 1964, Os Anjos do Sol, JK, Carlos Marighela, entre outros.”
Momentos mágicos
Nas redes sociais, recordações pessoais sobre o cineasta também foram compartilhadas. “Morre meu amado mestre Silvio Tendler. Tive o privilégio de ser seu aluno no curso de Cinema da PUC-Rio. Aprendi muito sobre cinema e, principalmente, sobre a vida em suas aulas. Tive a honra de frequentar sua casa e viver momentos mágicos. Hoje é um dia profundamente triste”, lamentou, por exemplo, o ex-aluno de Tendler Leo Arturius, hoje pedagogo e cineasta, em postagem no X.
As interações afetuosas também são citadas por Sérgio Machado. “Além de um cineasta fundamental, [Silvio Tendler] era um homem doce e atencioso”, conta à Agência Brasil. “Lembro que participei de um debate com ele quando estava começando, e ele já era um documentarista consagrado. Aprendi muito com ele e com os filmes dele.’’